Que venha o diabo e escolha

Não sei se o inferno é feito de fogo, enxofre e chamas eternas, mas aqui por algumas Áfricas o verdadeiro inferno tem balcões de ministérios, carimbos que nunca se encontram e formulários com três vias, sendo que uma… desaparece sempre misteriosamente. Entre burocracia, tarifas e impostos, venha o diabo e escolha.

A burocracia pede cópias autenticadas, assinaturas reconhecidas e certidões que só se obtêm em outros guichês. É um jogo de paciência e a mais refinada das torturas, de quem está a espera que se lhe paguem facilidades. Há sempre uma nova exigência, uma cópia autenticada, uma certidão que só se tira num outro balcão, uma assinatura reconhecida que só pode ser feita no cartório autorizado em que “faltou a assinatura do chefe que acabou de sair”. Parece um jogo em que que cada etapa empurra o contribuinte e o investidor dois passos para trás.

Já as tarifas internas são a portagem invisível. Há tarifas de luz, de água, de saneamento, de circulação “da polícia de trânsito”, de exportação e, se descuidarmos, logo inventam a tarifa da respiração. O curioso é que, mesmo pagando todas, os serviços continuam a chegar com a pontualidade de uma tartaruga sonolenta e sem qualidade, com a desculpa de “falta de meios. “Para estradas? Não há adjectivos…!  Ainda vamos ter que pagar para reclamar.

E, claro! Os impostos, são um espetáculo de criatividade estatal, IVA, IRT, IPU, IRS, numerosos e pesados que vistos deste meu cantinho das Áfricas, onde o PIB pouco cresce acima da taxa demográfica e a inflação de dois dígitos há anos, impõe já de si imposto adicional só dá vontade de chorar. A inteligente política fiscal recai sempre sobre os mesmos (os que trabalham) e tem sido a última facada à prosperidade, à esperança e à vontade de se ser economicamente formal. Os impostos podem ser o adubo para informalidade porque a pobreza é visível e a indiferença também… Impostos que sustentam um buraco negro sem fundo da máquina pública, onde engole tudo sem devolver quase nada.

Enfim! Um triângulo das Bermudas do contribuinte moderno, burocracia, tarifas e impostos. Tudo o que entra dinheiro, tempo e esperança desaparece. Que venha o diabo e escolha.