
José Mourinho analisou, na sala de imprensa do Estádio do CD Aves, a vitória do Benfica frente ao Aves SAD, na partida que marcou o seu regresso às águias, 25 anos depois.
Numa conferência de imprensa que contou com a presença de jornalistas estrangeiros, nomeadamente um inglês e um italiano, o treinador dos encarnados abordou o que mudou em tão pouco tempo de preparação, falou do regresso a Portugal 25 anos depois e revelou ainda que falou com Villas-Boas e Varandas, garantindo que não quer «guerras.»
Análise ao jogo e o que já houve de Mourinho na equipa
«Comentava que são homens que jogam à bola e na primeira parte viu-se uma equipa que quis muito, que já teve algumas coisas que eu já gostei, mas uma equipa pressionada, nervosa, que demorou algum tempo a estabilizar. Os homens que jogam à bola na segunda parte fizeram um golo. Disse ao intervalo que tínhamos de ir com uma atitude ganhadora, que não podíamos permitir ao Aves SAD intrometer-se no jogo. Os níveis de confiança estiveram muito altos na segunda parte. Disse-lhes que tínhamos de aproveitar o momento de dificuldade do adversário e depois fizemos o 2-0 e o 3-0 e o jogo acabou. Agora temos dois dias para recuperar, afinar algumas coisas e já chega outro jogo complicado.»
25 anos depois como é que se sentiu ao regressar ao Benfica?
«Não pensei muito nisso. Disse que não vinha para cá celebrar carreira, mas até antes de chegar ao estádio tu sentes o que é o benfiquismo e quando entras ainda mais. No final do jogo pensei sim. Foram 25 anos que passaram a voar, mas anos que não mudaram a minha natureza, a minha paixão e a minha forma de viver.»
Equipa precisa de confiança e prazer em ter a bola?
«Nós, os treinadores, somos todos diferentes. Já não sei falar português muito bem. Temos sempre coisas para acrescentar, para melhorar e às vezes até para piorar. Com este tempo, quis dar estabilidade aos jogadores que vinham jogando praticamente sempre. Havia coisas que eu gostava muito. O Benfica era uma equipa que eu conhecia bem, joguei três vezes contra eles. A bola parada defensiva não tive tempo de mudar, vou acreditar no que estava feito anteriormente e que estava bem. Houve coisas que nós fizemos e que jogando praticamente com os mesmos jogadores fizemos coisas diferentes. Agradeço aos jogadores o profissionalismo, a forma como representam o clube e à forma como me receberam. Se tivéssemos perdido, era um desastre em termos de pontuação, ganhando não era fenomenal mas era o melhor que podíamos. Disse-lhes no fim do jogo: ‘Foi bom, mas não foi nada de extraordinário. Despachem-se que amanhã temos treino.»
25 anos depois regressa após uma história de Hollywood
«Acompanha-me [jornalista inglês] sempre para todo o lado e agradeço por estar aqui e por isso. Posso dizer que é meu amigo, também posso ter amigos jornalistas. Queria regressar a Portugal, mas que quando o fizesse que fosse para a Seleção Nacional, continuo a achar que vou ser selecionador nacional. Mas agora estou no Benfica, que é um grande clube. Quando era treinador do Fenerbahçe reconheci isso mesmo, que o Benfica é um clube gigante. É bom estar de volta à Liga dos Campeões ao mais alto nível. No primeiro jogo vou regressar a casa, o meu filho vai andar cinco minutos e vai estar no estádio. Perdemos pontos numa partida que não podíamos, então temos de recuperá-los num outro jogo. Ele vai ter um trabalho muito simples porque eu não quero saber quem escreve bem ou mal sobre mim, não quero saber nada. Parabéns, vais ter um trabalho facilitado comigo aqui [para o assessor de comunicação do Benfica].»
Receção em Portugal e sentimento de estar casa
«A minha casa é em Londres. A nossa casa principal de família é em Londres. Eu não vim para Portugal pelo facto de a minha casa de Azeitão ao Seixal serem 20 minutos, vim para treinar um grande clube, um gigante. Estive em gigantes, Real Madrid, Manchester, Roma, não para ganhar títulos, mas um gigante social. Agora tive a oportunidade de vir treinar um gigante e foi isso que me trouxe. O centro de estágio passa a ser uma casa minha, se é no Seixal ou em Roma não muda grande coisa. A minha cabeça é profissional. Quando tiver 80 anos voltarei a Portugal definitivamente mas isto não é voltar a Portugal definitivamente, isto é um contrato de dois anos com o Benfica e depois eu e o Benfica decidiremos se é para continuar ou não. Vim para aqui para trabalhar, para sentir exigência e para me pôr à prova porque eu esqueço-me do que aconteceu nos últimos 25 anos. Estou super contente pela responsabilidade de treinar um grande clube como este, não pelo facto de regressar a Portugal.»
Primeiros 20 minutos da segunda parte mais próximos do que pretende
«Obviamente que são dois dias de recuperação, mas pode recuperar-se só ou trabalhar com uma intensidade e densidade muito muito baixa e tentar meter mais alguma ideia, mas sempre na mesma linha, sem desvirtuar aquilo que eles eram. Pressionámos de forma diferente, gerimos a posse de bola de forma diferente. Na primeira parte procurámos a mudança de flanco de forma exagerada. Homens felizes e relaxados jogam melhor do que homens sob pressão e tristes. Não pedi nada para mim, estavam focados neles próprios. É um grupo muito unido, são miúdos muito giros. Os rapazes que nasceram praticamente no Benfica são mesmo irmãos, parece uma irmandade. É um grupo muito unido. Vou tentar ajudá-los com a minha experiência, ajudei com o ambiente no autocarro, mais leve, ao contrário da viagem para cima, que teve um ambiente mais pesado.»
Reação dos adeptos do FC Porto e receção no Dragão
«Se me perguntar que o FC Porto é um dos maiores clubes do mundo, sim. Se o FC Porto é um gigante, eu digo que sim. Eu não vim para o Benfica para chatear o FC Porto, vim para usufruir do facto de treinar um clube grande, com ambições grandes. Espero que não fiquem chateados comigo. Depois de vir para o Benfica, falei com o Villas-Boas e com o Varandas, o presidente do Sporting. O facto de ser treinador do Benfica não significa que vim para fazer guerra. Se acho que vou ser ovacionado novamente no Dragão, obviamente que não. O FC Porto é parte importantíssima da minha história e eu da do Porto. Combinámos, com o meu staff, vamos a diversos sítios seja em Portugal ou no estrangeiro, mas só em clubes que estejam a ganhar. O FC Porto na semana passada, esta semana seria o Sporting-Moreirense, depois íamos para Madrid, tínhamos decidido que não ia ao Inter. Os adeptos tiveram aquela receção fantástica para comigo, que acho que mereço, mas inimigos em 90 minutos… mas inimigos desportivos, não gosto de nada mais do que isso. O FC Porto quer ganhar e eu quero ganhar. Nada mais do que isso.»