Sinais de vida alienígena no exoplaneta K2-18b praticamente desapareceram

No início deste ano, astrónomos anunciaram possíveis indícios de vida noutro planeta. Contudo, novas observações do Telescópio Espacial James Webb (JWST) sugerem que a suposta bioassinatura não está, afinal, presente no exoplanerta K2-18b. Será apenas mais um planeta sem vida e sem interesse?


Afinal não havia nada de “revolucionário”?

As esperanças de encontrar vida alienígena no planeta K2-18b estão a desvanecer rapidamente, à medida que novas observações mostram não haver evidência detetável da biomolécula que estudos anteriores tinham sugerido.

A maioria dos cientistas concorda que estas alegações iniciais foram prematuras, mas um dos investigadores por trás da descoberta anterior argumenta que os novos dados são, na verdade, ainda mais convincentes!

Em abril, Nikku Madhusudhan, da Universidade de Cambridge, e a sua equipa afirmaram ter detetado vestígios de dimetilsulfureto (DMS) e dissulfureto de dimetilo (DMDS) na atmosfera do planeta K2-18b, um planeta rochoso maior do que a Terra, localizado a cerca de 124 anos-luz.

Na Terra, estas moléculas são produzidas exclusivamente por organismos vivos. Na altura, Madhusudhan descreveu estes sinais como “os primeiros indícios de um mundo alienígena possivelmente habitado”.

Contudo, outros investigadores analisaram os mesmos dados do JWST com modelos estatísticos diferentes e não encontraram evidência forte da presença dessas moléculas. Ainda assim, Madhusudhan e a sua equipa também reanalisaram os dados, de forma mais aprofundada, e segundo disse à revista New Scientist, isso deixou-o “ainda mais confiante” de que o DMS é a melhor explicação.

Sem novas observações, o consenso sobre a possível presença de vida no K2-18b permanecia incerto.

K2-18b, também conhecido como EPIC 201912552 b, é um exoplaneta que orbita em torno de K2-18, uma estrela anã vermelha, localizada a cerca de 124 anos-luz (38 pc de distância a partir da Terra, na constelação de Leão). Ele é 2,6 vezes o raio e 8,6 vezes a massa da Terra. O planeta completa uma órbita a cada 33 dias e tem um Índice de similaridade com a Terra (ESI) de 0,73. O K2-18b é o único exoplaneta conhecido por ter água e temperaturas que podem sustentar a vida.

Cedo demais para dizer que “havia vida fora da Terra”

Agora, Renyu Hu, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, em colaboração com a equipa de Madhusudhan, analisou novas observações do JWST. O resultado foi claro: não há evidência estatística de deteção.

O artigo não apresenta prova conclusiva da existência desta molécula na atmosfera.

Afirma Hu.

Ambas as equipas usaram a câmara de infravermelhos próximos do JWST para analisar a luz da estrela de K2-18b, que atravessa a atmosfera do planeta e pode revelar que moléculas ali existem. Este novo conjunto de dados foi obtido em comprimentos de onda diferentes dos usados na análise de abril.

Diversos modelos atmosféricos foram considerados, com variações nas moléculas presentes e na composição da atmosfera.

Alguns modelos que incluíam DMS explicavam ligeiramente melhor os dados, mas não de forma significativa, e nenhum atingiu o limiar estatístico exigido para se considerar uma deteção.

Esta dependência do modelo mostra que o sinal é muito fraco, se é que existe sinal algum. Devemos ser cautelosos.

Alertou Hu.

K2-18b abriu a janela do sonho?

Madhusudhan reconhece que não há evidência suficiente para uma deteção, mas defende que os dados devem ser comparados com observações anteriores de 2023, feitas com a mesma câmara de infravermelhos. Nessa perspetiva, a presença de DMS surge com mais força.

Estatisticamente falando, os dados mostram uma evidência ligeiramente superior para DMS.

Afirma o investigador Nikku Madhusudhan.

Admite, contudo, que podem existir outras moléculas a simular o sinal do DMS, e que, embora o DMS seja a explicação mais plausível, não é possível afirmar isso de forma robusta.

Este artigo deixa claro que não há evidência de dimetilsulfureto. Não há evidência estatística para nenhum destes gases.

Afirma Luis Welbanks, da Universidade Estatal do Arizona. Sara Seager, do MIT, concorda, dizendo que o nível de significância estatística reportado “não é considerado uma deteção”.

Não é possível detetar vida, mas há dados interessantes

Jake Taylor, da Universidade de Oxford, considera que o debate sobre a presença de DMS na atmosfera de K2-18b está a chegar ao fim, uma vez que a maior precisão das medições não trouxe confirmação mais robusta.

Mais ainda, Hu e a sua equipa descobriram que, em atmosferas ricas em hidrogénio, como a de K2-18b, é possível produzir DMS por vias químicas sem intervenção de vida biológixa.

Isto ajuda-nos a definir que moléculas podem ser bioassinaturas exclusivas em atmosferas de exoplanetas, e parece que o DMS não é uma delas.

Diz Taylor.

Ainda assim, novos dados com o instrumento de infravermelhos médios do JWST, como os usados em abril, poderão vir a oferecer mais detalhes, pois observam regiões do espectro onde o DMS e outras moléculas complexas são mais visíveis.

Um ponto de consenso entre os astrónomos é que o planeta é rico em água. Hu e os seus colegas detetaram metano e dióxido de carbono, o que sugere a presença de água. No entanto, não é possível saber se esta água existe sob forma de oceanos, vapor atmosférico, ou se está retida no interior do planeta.