Inspirado nas torres de vento egípcias, este dispositivo usa água e um ventilador para reduzir até 4 °C a temperatura. Vejam a criatividade tecnológica deste ar condicionado.
6 pontos que se destacam no artigo:
- Refrigeração portátil e ecológica.
- Inspirada em técnicas tradicionais.
- Apenas 1,5 W de consumo.
- Ideal para zonas sem ar condicionado.
- Arrefecimento localizado, sem desperdício.
- Materiais recicláveis e design reparável.
Para que serve o… Aquilo?
Aquilo é um sistema de refrigeração sustentável baseado em arrefecimento evaporativo, que utiliza um têxtil húmido e um ventilador de baixo consumo para refrescar o ar.
Inspirado em torres de vento egípcias e em mecanismos de termorregulação natural, oferece uma alternativa acessível e eficiente para quem vive em zonas com temperaturas extremas e recursos limitados.
Em vez de arrefecer espaços inteiros como faz um ar condicionado tradicional, Aquilo foca-se em fornecer refrigeração localizada, exatamente onde é necessária: junto à cama, à secretária ou à mesa de refeições. Esta abordagem minimiza o gasto energético e reduz a pegada ambiental do utilizador.
Perante o aumento das ondas de calor, sobretudo em regiões urbanas densas ou em assentamentos informais sem acesso a infraestruturas modernas, soluções como Aquilo permitem proteger a saúde e o bem-estar sem depender de sistemas elétricos dispendiosos nem de combustíveis fósseis.
Como funciona este “ar condicionado”
Na parte superior do dispositivo encontra-se um ventilador axial de baixo voltagem, semelhante ao usado em computadores pessoais. Este ventilador aspira o ar quente e fá-lo passar por um têxtil 3D embebido em água, ligado a um depósito através de um sistema rotativo que o molha e tensiona.
Quando o ar quente atravessa o têxtil húmido, ocorre a evaporação da água, que absorve calor do ambiente e reduz a temperatura do ar. Esse ar mais fresco é então expelido para cima, gerando uma corrente refrescante.
O consumo energético é mínimo: apenas 1,5 W, o que permite o seu funcionamento até com pequenos painéis solares, baterias portáteis ou sistemas off-grid.
O design dobrável facilita o transporte e, por não emitir calor residual, não contribui para o efeito de ilha de calor urbana, um fenómeno agravado pelos aparelhos convencionais de ar condicionado.
Processo de design
Após estudar o princípio físico do arrefecimento por evaporação, iniciaram-se experiências empíricas com diferentes materiais e configurações. Numa caixa fechada aquecida a 30 °C, testaram-se tecidos, recipientes e fluxos de ar para encontrar a combinação mais eficaz.
Os melhores resultados vieram de uma malha têxtil tridimensional com elevada capacidade de retenção de água, fácil limpeza e possibilidade de substituição. Ao contrário dos recipientes de barro, o têxtil não se degrada facilmente e adapta-se melhor a um uso urbano.
Um desafio central foi criar um sistema que permitisse humedecer o têxtil de forma uniforme e sem sujidade. A solução surgiu de um mecanismo de laços metálicos que giram dentro do depósito e depois se expandem, embebendo o tecido sem necessidade de desmontagem.
Este equilíbrio entre simplicidade, eficácia e usabilidade marcou cada fase do design. As decisões não foram tomadas apenas pela funcionalidade, mas também pela sustentabilidade: escolheram-se materiais reutilizáveis e processos compatíveis com fabrico descentralizado ou em pequena escala.
O que o torna diferente
Aquilo distingue-se dos sistemas tradicionais por vários fatores:
- Consumo energético ínfimo: em contraste com os ares condicionados convencionais, responsáveis por cerca de 10 % do consumo elétrico global, Aquilo requer apenas uma fração mínima de energia.
- Design reparável e reciclável: cada componente foi pensado para ser desmontado, substituído ou reutilizado.
- Fabrico de baixo impacto: sem gases refrigerantes, sem plásticos descartáveis e sem obsolescência programada.
- Interação intuitiva: o simples gesto de rodar o corpo do dispositivo em direção à água transforma o uso numa experiência tangível e consciente.
- Higiene e saúde: o têxtil pode ser lavado ou substituído facilmente, evitando bolor e alergénios, algo muitas vezes ignorado noutros sistemas evaporativos.
Além disso, o conceito de “microclima pessoal” quebra a lógica habitual de sobreconsumo: por que motivo arrefecer 50 m² se apenas uma pessoa ocupa 1?
Planos para o futuro
O desenvolvimento de Aquilo continua com novos protótipos, integrando feedback de utilizadores em diferentes climas. O objetivo é aumentar a eficiência térmica, melhorar a facilidade de uso e otimizar os materiais para produção local e escalável.
Existe interesse em aplicar esta tecnologia em contextos humanitários, como abrigos temporários, campos de refugiados ou habitações de emergência. Estudam-se também adaptações para ambientes urbanos densos, onde soluções individuais podem ter um impacto significativo sem sobrecarregar as redes elétricas.
A produção descentralizada, através de fabricação digital local (FabLabs, makerspaces), poderá permitir que comunidades vulneráveis tenham acesso a esta tecnologia sem depender de grandes corporações nem de cadeias globais de fornecimento.
Potencial do mini ar condicionado
O impacto de Aquilo vai além do conforto térmico. Representa uma nova forma de pensar o design e a tecnologia perante a crise climática:
- Reduz a procura elétrica nas horas de pico, oferecendo alternativas passivas e eficientes.
- Incentiva o uso de tecnologias apropriadas, especialmente em regiões com infraestruturas limitadas ou instáveis.
- Evita o uso de gases refrigerantes, com elevado potencial de aquecimento global.
- Dá autonomia às pessoas, permitindo enfrentar o calor extremo sem depender de soluções caras ou poluentes.
- Revaloriza saberes tradicionais, integrando-os na transição ecológica.
Num planeta que aquece rapidamente, repensar como nos mantemos frescos não é luxo, é necessidade. E Aquilo surge como uma resposta realista, acessível e alinhada com um estilo de vida mais consciente.