Transporte marítimo cresce devagar na transição, mas mercado pode atingir 10 mil milhões

A disponibilidade dos proprietários de carga para pagar mais por transporte marítimo verde está a perder força, num mercado ainda pouco regulado e dependente de ações voluntárias, aponta um novo relatório. De acordo com o Shipping Decarbonization Survey, da Boston Consulting Group (BCG), “a média global da disposição para pagar um prémio [pelo transporte verde] aumentou apenas meio ponto percentual em 2024”, contrastando com o crescimento anual de um ponto percentual registado entre 2021 e 2023.

O estudo, que ouviu 125 decisores do setor no final de 2024, identifica três perfis distintos de clientes: os que resistem à adoção até que a lei obrigue; os que aguardam clarificação regulatória; e aqueles que veem no transporte zero-carbono uma oportunidade estratégica, considerados os líderes.

Estes últimos, maioritariamente das indústrias da moda, beleza, alimentação e saúde, “estão dispostos a pagar um prémio superior a 5%” e usam a opção verde para ganhar lealdade de clientes, vantagem competitiva e retorno financeiro. No entanto, mesmo entre os mais avançados, “dois em cada três nunca foram abordados com ofertas zero-carbono pelos seus transportadores” e 60% aplicam soluções verdes apenas numa parte dos transportes.

A confiança, a transparência e a rastreabilidade das opções de combustível sustentável são hoje prioridades para todos os segmentos. O estudo sublinha que “65% dos retardatários e seguidores apontam a falta de clareza nos preços como principal barreira” à adesão, enquanto um terço dos considerados líderes também rejeita propostas por considerar a oferta inadequada às necessidades do negócio.

Apesar do abrandamento, a BCG estima que “o mercado potencial até 2030 pode atingir os 10 mil milhões de dólares” se as empresas conseguirem captar a procura ‘adormecida’, sobretudo na Europa e em setores com carga de alto valor por volume. A revisão regulatória da Organização Marítima Internacional (IMO), prevista para abril e com implementação em 2027, inclui “um padrão de combustível marinho com metas de redução gradual de gases com efeito de estufa”.

“Os transportadores devem agir de forma criteriosa, identificando e captando os bolsos de crescimento mais atrativos”, defende o relatório, sublinhando que será essencial dominar a parte técnica e comercial dos combustíveis alternativos, garantir fornecimento competitivo e comunicar com precisão o valor das ofertas verdes.

Segundo a BCG, transportadoras com escala suficiente podem até “criar o seu próprio mercado” ao assegurar volumes relevantes de combustível alternativo e melhorar as soluções zero-carbono, moldando a procura e conquistando a confiança dos clientes. É preciso, remata o relatório, antecipar a regulação para garantir competitividade.