Num cenário geopolítico cada vez mais dominado pela tecnologia, a corrida pela supremacia em inteligência artificial (IA) intensifica-se. É neste contexto que surge o novo “Plano de Ação para a IA da América”, uma iniciativa que promete redefinir o futuro da tecnologia no Ocidente, mas que levanta sérias preocupações…
Uma estratégia open-source com valores americanos
A administração Trump revelou a sua estratégia para a IA, apresentada como uma resposta direta à crescente ameaça da China em ultrapassar os EUA neste setor. Os eixos centrais do plano assentam em dois pilares: garantir que a IA se mantém como uma tecnologia open-source e com pesos de modelo acessíveis.
Adicionalmente, a proposta da administração sublinha que a IA de fronteira deve salvaguardar a liberdade de expressão e os “valores americanos”.
No entanto, a definição exata destes conceitos permanece vaga e sujeita a interpretações díspares. Por exemplo, enquanto a criação de deepfakes de figuras públicas ou políticas é defendida por alguns como um exercício de liberdade de expressão, outros consideram-na uma clara invasão de privacidade, um uso indevido da tecnologia e um ato de fraude.
Curiosamente, o próprio presidente Trump já recorreu a vídeos gerados por IA, como o que simulava a detenção de Barack Obama no Salão Oval, o que adensa ainda mais o debate sobre os limites éticos desta tecnologia.
Implicações sociais
Naturalmente, o plano levanta sérias preocupações que vão além da sua implementação técnica. Embora o avanço da IA pareça promissor no papel e a sua evolução seja inevitável, existem receios consideráveis sobre o seu impacto no mercado de trabalho americano. O potencial de automação de empregos é uma realidade que inquieta muitos trabalhadores.
Paralelamente, cresce a preocupação sobre como a IA poderá afetar a nossa capacidade de aprender e de raciocinar. Alguns estudos sugerem que a dependência excessiva de ferramentas de IA pode levar a uma atrofia do pensamento crítico, à medida que se delegam nestes sistemas tarefas que antes exigiam esforço intelectual.
A estratégia alarga-se ainda ao plano internacional, com a intenção de disponibilizar o acesso a sistemas de IA “feitos na América” a países aliados e parceiros. Resta saber se esta abordagem será suficiente para cimentar a liderança americana no setor ou se acabará por diluir a sua vantagem competitiva.
Contudo, uma coisa parece clara: uma abordagem com menos regulamentação, como a que é sugerida, irá provavelmente exponenciar os perigos já existentes. As chamadas fraudulentas e os vídeos fraudulentos que circulam em plataformas como o TikTok, criados com recurso a IA, tornar-se-ão ainda mais convincentes e difíceis de detetar.
A ausência de mecanismos de segurança robustos pode criar um ambiente digital perigoso.
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