Xi Jinping, 7 israelitas e a refugiada ucraniana 

A comunicação social portuguesa não cessa de surpreender. Ora ficciona factos, ora distorce, ora omite. E ainda tem o topete de, depois, discorrer longamente sobre fakenews ou desinformação e apontar o pelourinho às redes sociais.

Podia dar-vos milhares de exemplos sórdidos que ilustram o estado comatoso do Jornalismo português mas cingir-me-ei aos últimos dias, para que melhor se entenda a intensidade desta cascata de notícias falsas, em espaços e horários ditos nobres. 

Comecemos pelo Jornal de Negócios. Por estes dias, essa publicação apresentou um ranking dos “Mais Poderosos de 2025”.  Paulo Macedo é o 6.°,  Pedro Soares dos Santos é o 7.º, Cláudia Azevedo a 8.ª. Caso para dizer, pobre Xi Jinping que apenas consegue a 9.ª posição. Não sei como é que aguenta o Império Chinês ocupando um lugar tão frágil, caramba! De resto, bem sei que estes não são os melhores dias da França (bem antes pelo contrário), mas o que dizer de Emmanuel Macron, classificado no 21.º?! Este ranking é realmente informativo e esclarecedor. Tanto mais que Vladimir Putin surge em 49.°, disputando o lugar com Gouveia Melo. Ufa. Quase nem constava! 

Outro exemplo desta semana diz respeito a Nuno Rogeiro que, sem se rir, na SIC Notícias, veio colocar a hipótese de o acidente com o Elevador da Glória ser um ataque terrorista contra cidadãos israelitas. A conspiração engendrada pelo comentador e secundada pela pivô tinha por base o facto de sete das vítimas (entre todos os feridos, graves e menos graves) serem cidadãos israelitas o que é, factualmente, uma irrelevância estatística. Enfim, a tese de sabotagem ou de atentando não deve ser colocada de forma tão ligeira, até pelo alarme social que causa.

A omissão não é menos daninha. Vejam: o assassinato de uma jovem refugiada ucraniana de 23 anos, de forma totalmente gratuita, por um homem chamado Decarlos Brown Jr., num comboio na Carolina do Norte, nos EUA, tem incendiado os media locais e as redes sociais. A questão que muitos formulam é o porquê de não aparecer em todo o lado — na comunicação social portuguesa inclusive — posto que, por exemplo, aquando do homicídio  de George Floyd, há cinco anos e no mesmo Estado, não se falou de outra coisa e não faltou quem repetisse “Somos todos George Floyd”. Porque é que este assassinato — sem sentido e sem causa — de uma mulher é silenciado?!  Que duplos critérios tem este jornalismo?!

Todas estas situações que, repito, referi a mero título exemplo (posto que os casos são padrão e não exceção), perigam o chamado quarto poder, pilar da democracia. Poderá o regime sobreviver a uma comunicação social tão preguiçosa, vendida e tendenciosa? 

Não há dúvida que aqui é que mora um atentado mortal contra o outrora “mundo livre” e temo que a agonia a que assistimos de tantos órgãos de comunicação social seja o menor dos males a que vamos assistir. O maior será nas ruas, claro. E talvez não passe na televisão.

Ativista Política//Escreve à quarta-feira no SAPO

[email protected]